'Se liga pra não ir pro inferno': no Pará, fala de prefeito sobre religiões afro provoca repúdio
18/06/2025
(Foto: Reprodução) Declarações de Aurélio Goiano sobre religiões afro-brasileiras geram reação de vereadores e entidades religiosas. Câmara Municipal cobra retratação. Falas de prefeito de Parauapebas causam revolta em religiões de matriz africana da região
O prefeito de Parauapebas, Aurélio Goiano (Avante), está no centro de uma polêmica após declarações consideradas discriminatórias contra religiões de matriz africana, feitas durante uma sessão solene na Câmara Municipal. O evento, realizado na última quarta-feira (11), celebrava o Dia Municipal do Evangélico. Até a publicação desta reportagem, o prefeito ainda não havia se manifestado oficialmente sobre o caso.
Durante o discurso, que viralizou nas redes sociais, o prefeito afirmou:
“Esse prefeito é terrivelmente temente a Deus. Se as religiões de matriz africanas precisarem do apoio da prefeitura, a Coordenação de Assuntos Religiosos está de portas abertas e um pastor irá recebê-los e ainda vai dizer: Jesus salva, Jesus cura e se liga para você não ir para o inferno!”.
Ele prosseguiu dizendo que não acredita “em nada mais do que Jesus Cristo, o resto, pra mim é resto”, e mencionou o coordenador de Assuntos Religiosos, pastor Geraldo Teixeira, como “matador de demônios” que receberia os seguidores de outras crenças.
Entidades religiosas, movimentos civis e parlamentares consideraram o discurso um caso de intolerância religiosa.
Câmara pede retratação
A repercussão levou a Câmara Municipal de Parauapebas a publicar, no domingo (15), uma nota oficial de repúdio às declarações do chefe do Executivo. O documento é assinado pelo presidente da Casa, vereador Anderson Moratorio (PRD), e pelos membros da Comissão de Direitos Humanos — Tito do MST (PT), Érica Ribeiro (PSDB) e Sadisvan Pereira (PRD).
Na nota, o Legislativo afirma que as declarações são “inaceitáveis” e “absolutamente incompatíveis com os deveres constitucionais atribuídos a qualquer agente público”. A Câmara também lamentou que uma sessão solene, voltada à celebração da fé, tenha sido marcada por discursos que geraram “profunda indignação em lideranças religiosas, organizações civis e diversos segmentos da sociedade”.
Segundo os vereadores, o conteúdo do pronunciamento do prefeito carrega “elementos de intolerância religiosa, desinformação e estigmatização das religiões de matriz africana, que historicamente sofrem discriminação e marginalização no Brasil”.
A nota ainda destaca que houve uma violação ao princípio constitucional da laicidade do Estado, e cobra uma manifestação pública de retratação por parte de Aurélio Goiano, com “ampla divulgação, dirigida às comunidades impactadas e à sociedade parauapebense”.
Racismo religioso
Antes mesmo da manifestação da Câmara, a Federação Espírita Umbandista dos Cultos Afros Brasileiros do Estado do Pará (FEUCABEP) também repudiou as falas, classificando-as como racismo religioso, crime previsto em lei. A entidade pediu a responsabilização do prefeito e do diretor de Assuntos Religiosos da cidade.
A Câmara concluiu o comunicado reafirmando seu “compromisso inegociável com os direitos humanos, com a liberdade religiosa e com a construção de uma sociedade democrática, justa, inclusiva e plural”.
Até a publicação desta reportagem, o prefeito Aurélio Goiano ainda não havia se manifestado oficialmente sobre o caso.
Prefeito durante fala.
Reprodução / TV Liberal
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